sábado, 3 de julho de 2010

O PAÍS SEM MAL

Um etnólogo diz ter encontrado
Entre selvas e rios depois de longa busca
Uma tribo de índios errantes
Exaustos exauridos semimortos
Pois tinham partido desde há longos anos
Percorrendo florestas desertos e campinas
Subindo e descendo montanhas e colinas
Atravessando rios
Em busca do país sem mal –
Como os revolucionários do meu tempo
Nada tinham encontrado.

“Poemas Reencontrados", Ilhas (1989)

1 comentário:

  1. Haverá “país sem mal”?

    Não nos deixemos enganar pelo título. “O país sem mal” (Ilhas, 1989) não é um poema sobre uma terra idílica, mas a afirmação da impossibilidade da sua existência.
    Sophia quase nos ilude com o seu primeiro verso: “Um etnólogo diz ter encontrado…” Todavia, num estilo facilmente reconhecível - escolha rigorosa de palavras, pontuação contida nos versos –, Sophia constrói um pequeno poema que é quase uma odisseia. O que ele, o etnólogo, diz ter encontrado é “Uma tribo de índios errantes/Exaustos exauridos semimortos” (3º-4ºvv), após uma longa e vã demanda do “país sem mal”.
    Em síntese, ele descobre, com os “índios errantes”, que tal utopia não existe; Sophia descobre, com o etnólogo, que os revolucionários do seu país são como os “índios errantes” em busca da utopia; e nós descobrimos, com Sophia, que a revolução é só o início de uma busca sem fim.
    Cerca de uma década e meia após o 25 de Abril, Sophia escreve este poema para nos dizer que a democracia não é um lugar “sem mal”. Poder-se-á, pois, afirmar que “O país sem mal” funciona como uma parábola para a Revolução dos Cravos. “A poesia está na rua” dizia-se então. E estava. Mas o mal também.

    Texto escrito pela professora

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